Corpo Território memória ancestral
Corpo-território e memória ancestral: afetos, afetividades, afetações
Não apagarão nossa memória
Extesão Wapichana
Sou resistência de caimbé
Sou wapichana
Quem sou eu? Sou eu!
Sou terra, lavrados, peixes, florestas, serra, susui
Sou eu!
Tentaram me apagar, usurpar a minha história
Quem tu és? Ungary, pugary, waynau...
Sou eu, sou tu, sou nós
Não se apaga a memória
Terra e sangue Wapichana
vive em nós a nossa história
Quem sou eu ? Onde estou ?
Sou eu
Cá estou no terreiro da avó
pardos tetos de palha
Folhas secas de maniva
flor de paricarana sua essência espalha...
Sou resistência de caimbé
pintura de jenipapo, tranças de cipó Imbé
do urucum não escapo, para alvoraçar assobios
de kanaimé.
Cá estou, no caminho da roça
corridas de croatá, brincadeiras de cipó
Sou eu, Flechas, essência de maruwai
Nossa história não faz silêncio
mora em nós... kuraydiauna’a , dukuzy
em cada face, em lugares a nós propêncio
Nossa história não se apaga, se revive, se propaga
Sou eu. !!
Não quero mais violência cultural
nos respeite, não se aproveite
Sou Wapichana
quero paz no meu espaço natural
não quero que se despeite
apenas minhas vivências respeite
Tentaram usurpar minha história, de meu povo
continuamos resistindo
Entre serras e lavrados, entre o Branco e o Rupununi
Não adianta tentar repetir
cá estou advertindo, vamos continuar existindo
e nossa história em belos cantos refletindo
Quem sou eu? Sou Eu, sou tu, sou nós, Wapichana!
I am caimbé resistance
I am wapichana
Who am I? I am!
I am land, titlled land, fish, forests, hill, susui
I am!
They tried to erase me, rob me of my history
Who are you? Ungary, pugary, waynau...
I am me, I am you, I am us
You can’t erase memory
Wapichana land and blood
our history lives inside us
Who am I? Where am I?
I am
Here I am at my grandmother’s yard
brown straw roofs
Dry maniva leaves
Paricarana flower whose essence spreads out...
I am caimbé resistance
jenipapo paint, ropes of Imbé vine
urucum to incite whistles
from kanaimé.
Here I am, on the way to the field
croatá races, games with vines
I am, Arrows, with maruwai essence
Our history does not play silent
it lives in us... kuraydiauna’a, dukuzy
in each face, in each auspicious place for us
Our history cannot be erased, it is revived, it spreads itself
It is me!!
No more cultural violence
respect us, do not take advantage of us
I am Wapichana
I want peace in my cultural space
I don’t want your spite
just want you to respect my experiences
They tried to rob me, rob my people of our history
we continue to resist.
Between hills and tilled land, between the [rivers] Branco and Rupununi
No way you can even try to repeat it
I am here to warn you, we will keep on resisting
and on singing our history in beautiful chantes
Who am I? I am Me, I am you, I am us, Wapichana!
Vovô Maruai visita o Rio de Janeiro
Kanaimé no Pé de Caimbé
"Ela me visitou"
Ela sentou na rede e começou a fiar.
Ficava ali. Me olhava e depois olhava de novo.
- Anda menina. Anda logo. Venha me ajudar.
Eu abria o algodão ali mesmo. Abria e passava pra ela. Era normal fazer aquilo.
- Cadê o pé de algodão?
- Está aqui.
- E aquele outro? o grandão?
- Está lá. Coloquei no quadro.
- Quadro? Como quadro?
- Fiz uma obra, sabe? Eu botei ele num quadro.
Então expliquei como fiz. Que fui fiando, sonhando, e botei a flor inteira no quadro.
Ela me olhando.
- Você prendeu o pé de algodão, é? Agora ele parece uma queixada, ele vai morrer.
- Não vovó. Ele vai viver pra sempre. Agora ele fala tbm.
- Fala, é?
- Daqui a pouco vai voar. É bem isso vovó, o fio me disse.
- Menina, preciso rezar por você também. Tu não está bem.
Ela deixou o seu fuso e fio de lado,
acendeu seu cigarro de palha e começou seu rezo.
E logo veio aquele cheiro forte e aquela nuvem de fumaça.
E ali ela continuou.
Na sua rede
Me olhando
sentada
defumado a minha cabeça,
lentamente:
os meus pés,
as minhas mãos,
os meus olhos
a minha boca.
Depois pôs as mãos na minha testa.
Em seguida, soprou em meu ouvido e me abençoando disse:
- As árvores dão flores e frutos e leite e madeira O pé de algodão da flores, cura e muito mais. Ele mata também. Os fios são alimento. Plante o algodão e leve sempre com você. Você entendeu o que deve ser feito.
Pela manhã acordei e senti uma saudade e percebi que minha avó tinha me visitado novamente. Eu estava me sentindo muito bem.
"She came to visit me"
She sat in the hammock and started to weave the thread.
She’d sit there. She’d look at me and then look at me again.
- Come on, girl. Come on. Come help me.
I’d open the cotton right there. I opened her/him and passed to her. Doing that was normal.
- Where is the cotton plant?
- She/he’s here.
- And that other one? the bigger one?
- She/he’s there. I put her/him in the painting.
- Painting? As a painting?
- I painted an artwork, you know? I put her/him in the painting.
Then I explained how I did it. That I weaved the thread, dreaming, and that I put the whole flower in the painting.
She stayed looking at me.
- So you captured the cotton plant? Now she/he looks like a peccary, like she/he’s going to die.
- No, grandma. She/he is going to live forever. Now she/he speaks too.
- She/he speaks, does she/he?
- Very soon she/he’s going to fly. This is good, grandma, the thread told me.
- Girl, I need to pray for you. You’re not doing good.
She put her spindle and thread to the side,
lit her straw cigarrette and started her prayer.
Soon that strong smell and that smoke cloud started to rise.
There she stayed.
On her hammock
Looking at me
sat
filling my head with smoke,
slowly:
my feet,
my hands,
my eyes,
my mouth.
Then she put her hands on my forehead.
After that she blew in my ears and, blessing me, said:
- The trees give flowers and fruits and milk and wood The cotton plant gives flowers, healing and much more. She/he kills too. The threads give food. Plant the cotton and take she/he always with you. You understood what has to be done.
In the morning I woke up missing her and noticed that my grandmother had come to visit me again. I was feeling very good.